Unesc e UFPel firmam convênio para valorização das raízes negras
A equipe do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Unesc, capitaneada pela coordenadora Normelia Ondina Lalau de Farias, esteve nessa segunda-feira (18/07) na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul. Na pauta do encontro esteve a oficialização do convênio entre as duas instituições no campo da pesquisa e extensão para o conhecimento e valorização das raízes negras das regiões e definição de ações para a promoção de políticas afirmativas.
A equipe da Unesc participou ainda de uma visita técnica e de uma reunião com os pesquisadores do Museu Afro-Brasil-Sul (MABSul) da UFPel, que tem contribuído com a construção do acervo do museu análogo de Santa Catarina. Conforme Normélia, um tour pelo patrimônio histórico do entorno da Praça Coronel Pedro Osório, na Praia do Laranjal, Gruta de Iemanjá, Charqueada São João e no Museu do Doce/UFPel, também foi realizada pelo grupo.
A coordenadora do MABSul, professora Rosemar Lemos, falou sobre a constituição do Museu enquanto espaço de valorização das raízes negras no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, locais em que o papel do negro na história não é de fato conhecido. Assim, o MABSul vem para apresentar outras formas de representação e contribuir na educação com novas referências que evidenciem a cultura negra, construindo um novo momento que reflita em políticas e ações possíveis.
A coordenadora do Neabi, professora Normélia de Farias, faz coro ao reforçar que a história dos negros do Sul é pouco conhecida. “Precisamos resgatar e mudar esse contexto histórico. Queremos oportunizar àqueles que estão em formação acadêmica esse conteúdo a mais” e, para isso, o MABSul faz diferença, aponta. “É um prazer estar junto a vocês buscando uma grande contribuição para negros e não-negros. A partir do momento em que se conhece a cultura do outro, se passa a respeitá-lo bem mais”, salientou.
A coordenadora da Secretaria de Diversidades e Políticas de Ações Afirmativas da Unesc, Janaína Vitório, destacou que o espaço que se forma entre as duas instituições é precioso, na medida em que é possível trocar ideias e articular ações, estendendo a relação para além do Museu. A gestora, que também é psicóloga, destacou a importância do resgate da cultura para a saúde mental dos estudantes negros, que é uma condição de permanência nos bancos acadêmicos.
O pesquisador Douglas Franco dedica-se ao estudo do racismo estrutural na educação, em especial na formação de professores. Ele ressalta que as referências padrão são repletas de branquitude e que o trabalho com educação, patrimônio, vivências, culturas e todas as experiências, sentidos e entendimentos devem passar por outras perspectivas e percepções de mundo que sempre estiveram presentes, mas foram apagadas. Isso passa por ferramentas antirracistas para o trabalho dos professores e a atuação do Museu dentro das comunidades.
A vice-reitora Ursula Silva destacou a potência do Museu enquanto espaço de reconhecimento de um trabalho e uma história, construído a muitas mãos. A aproximação das duas entidades, salienta, é um reconhecimento do projeto e mostra que as possibilidades podem ser ampliadas. “Precisamos mudar a epistemologia. Nosso olhar é viciado no eurocentrismo e autores da decolonização estão alijados”, pontuou, destacando que iniciativas que fomentem a questão dentro dos currículos, ampliação de cotas e outras ações precisam de força institucional. “Temos feito análises e estudos, mas é preciso outros lugares que pensem junto com a gente. Temos muito a fazer juntos”, disse. “Sabemos que são passos lentos, mas bem consolidados, para que construamos algo permanente”, reforçou a reitora Isabela Andrade.
A coordenadora de Inclusão e Diversidade da UFPel, Airi Sacco, explanou a respeito das ações já realizadas e perspectivas que a UFPel tem a respeito, em especial relacionadas a editais docentes. Apesar de a UFPel ser uma das universidades que mais aplica reserva de vagas para professores, busca ampliá-la para estimular, além do ingresso do estudante, a figura do negro em cargos de poder.
A coordenadora-adjunta do MABSul, Jocelem Fernandes, lembrou da necessidade respeito em sala de aula. “Somos pessoas intelectuais, mas essa intelectualidade não é aceita dentro de universidades. Essa mentalidade precisa ser criada, resultando em um espaço em que o estudante sinta que foi tratado com dignidade. Isso é muito sério e muito forte”, salientou.
Na ocasião, também foram discutidas a participação do MABSul na organização do Dia do Patrimônio, a necessidade de uma disciplina que aborde a temática da valorização negra e apoio às atividades do Museu, dentre outros pontos.
O itinerário encerrou com reunião no Centro de Artes (Cearte), para definição de ações do MabSul na programação do Dia do Patrimônio.
Também participaram da comitiva os acadêmicos Douglas Vaz Franco e Carine Jaques, bolsistas do Núcleo.
Colaboração: assessoria de imprensa UFPel
Fonte: AICOM - Assessoria de Imprensa, Comunicação e Marketing
19 de julho de 2022 às 20:26