Edi Balod

PROJETO: ÚVULA DE ÍSIS: A voz da mulher na arte

CURADORIA: Adriano Mezari - Adrieli Roman - Alessandra Barbosa - Alice Meis - Ana Paula Gallas - Aline Delavechia - Billie Andrade - Daniel Amante - Débora Bitencourt - Eduardo Peixoto - Fabrício Silva - Iolanda Peres - Kianny Colle - Lucas Borges -Marcos Paulo Costa - Maria Cristina - Oniela Machado - Paloma Marques - William Fernandes Bombazaro.

COORDENAÇÃO DO PROJETO: Ana Zavadil

ARTISTAS: Alexandra Eckert ( Porto Alegre-RS, 1971), Angela Waltrick – (Lages-SC, 1967), Beatriz Harger - ( Joinville-SC, 1961), Bel Duarte – ( Criciúma-SC, 1974), Berenice Gorini – (Nova Veneza-SC, 1941), Bruna Ribeiro– (Criciúma-SC, 1993), Chana de Moura – (Porto Alegre-RS, 1989) Cheyenne Luge – (Quaraí – RS, 1990), Daniele Zacarão – (Criciúma-SC, 1987), Evenir Comerlato – (Caxias do Sul- RS, 1952), Juliana Veloso – (Porto Alegre – RS, 1992), Laura Goulart –(Torres-RS, 1994), Letícia Cobra Lima – (Rio de Janeiro-RJ, 1989), Magna Sperb- (Novo Hamburgo-RS, 1953), Meg Roussenq- (Rio do Sul-SC, 1958), Natasha Barricelli – (São Paulo-SP, 1975), Neca Sparta- (Santo Ângelo-RS, 1948), Umbelina Barreto – (Porto Alegre-RS, 1954)

VISITAÇÃO: 9 de maio a 9 de junho de 2017

NÚMERO DE VISITANTES: Aproximadamente 200 visitantes

SOBRE A EXPOSIÇÃO: Uma exposição desenvolvida na disciplina Seminário I – Crítica e Curadoria do Curso de Artes Visuais Bacharelado, que busca apresentar artistas mulheres e suas produções como fontes de poder e resistência.

TEXTO CURATORIAL: A exposição Úvula de Ísis: a voz da mulher na arte, reúne 18 artistas brasileiras e suas produções como fontes de poder e resistência no cenário feminista vigente, e canalizando através da arte, as conquistas alcançadas por sua militância coletiva e as lutas constantes por respeito e igualdade. Num cenário sombrio de competição por poder e autoridade, elas encontram forças umas nas outras para resistir e transformar antigos paradigmas e crenças obsoletas sobre seus sexos, seus corpos, suas ideias, onde as tentativas de ocultar a voz da mulher, a potencializa para que atravesse todos os densos muros da ignorância e construam os novos pilares da liberdade humana.
A voz da mulher na arte surge para alertar sobre a presença potente que se manifesta e não se dobra aos caprichos de sistemas patriarcais. É a vontade pictórica que invade a matéria e deixa registrado marcas de resistência e necessidades que precisam ser compreendidas e incorporadas por todos. A Úvula de Ísis se manifesta como arquétipo da Grande Mãe, provedora da vida, que concede as mulheres os poderes para caminhar ao lado do homem, e não sob sua sombra. É a antiga sabedoria inata na figura feminina que ensina e protege. A Deusa Negra egípcia aparece como símbolo de renovação e transformação, por isso a necessidade de voltar a olhar os arquétipos femininos de poder.
A união entre mulheres que marcham contra sistemas opressivos, o fim de símbolos associados a fragilidade e submissão, são apenas partes de um grande conjunto de “arquétipos fracos” contra os quais as mulheres lutam há séculos. Construir uma identidade, é transformar a maneira como enxerga a si mesmo e o mundo, é construir um corpo político, econômico, que contesta e transforma o meio.
De acordo com Simioni (2008, p. 22)
Ao invés de colocar em suspenso a ideia de inferioridade comumente atrelada ao pertencimento do sexo feminino, acaba-se por corroborar preconceitos dominantes. Nesse sentido a crença de que existem “mulheres notáveis” pode servir como exemplo de que as posições de desigualdade não resultam de forças sociais, mas de dons individuais, deixando incólume o cânon, sem identificar sua história e/ou as motivações que orientaram sua emergência e seu uso.
Com a mulher ingressando no mercado de trabalho, por volta de 1950 ela se insere no espaço público e passa a acumular papéis. A presença da mulher na arte, enquanto criadora e não musa, causava incomodo à classe artística masculina, que por sua vez tratava de atribuir aspectos frágeis as suas produções, sendo vistas como delicadas e frágeis, enquanto a produção masculina recebia atributos como potente e viril.
A noção de “arte feminina“ que foi amplamente divulgada na França ao longo de mil e oitocentos, deve ser vista como um rótulo produzido historicamente. Por meio dele se divulgava a ideia de que todas as mulheres possuíam características comuns, como um espírito delicado, além de serem propensas a alguns afazeres, como uma atenção ao detalhe, um sentido decorativo e imitativo que melhor se revelava as pequenas obras etc. Tais determinações as levavam a alguns gêneros artísticos específicos: a cópia, a natureza-morta, as artes aplicadas, as telas em pequenas dimensões com temas de gênero, as pinturas de flores, enfim, modalidade que, recorrentemente, eram desvalorizadas pelos homens, principalmente por as diferirem dos atributos de “gênio”, como a originalidade e o vigor. Tal esfera separada, a de “arte feminina”, por um lado possibilitou que muitas artistas pudessem mesmo viver deles, por outro, afastou-as de uma competição direta com as obras masculinas e relegou-as a um nicho menos valorizado dentro do mundo artístico. (SIMIONI, 2008, p. 44)

Em um meio extremamente machista e conservador, era difícil o acesso para mulheres participarem de aulas em ambientes repletos de homens, sendo que mesmo ao participarem eram oprimidas por seus próprios orientadores. O estudo do modelo-vivo tão necessário para a constituição de um artista na época, (o modelo de gênero, as pinturas históricas que glorificavam feitos era o que consagrava os artistas) era extremamente constrangedor, já que o ambiente não era separado, mesmo quando participavam e o modelo não ficava totalmente nu.
Em 1894 foram abertas aulas noturnas para o público feminino na modalidade livre, no caso, não seguindo as cadeiras impostas pela academia. Para as mulheres era quase impossível ficar transitando nas ruas durante a noite, pois esse fato ocasionava outro problema: seriam tachadas de promíscuas. Como as famílias presavam pela conservação da moral e integridade feminina, muitas vezes era necessário que as mães as acompanhassem.
As produções artísticas de mulheres, ganham mais potência na atualidade porque as causas feministas são abraçadas por responsáveis em dar visibilidade, como curadores e instituições de arte que se propõe romper com o cânone vigente. Cada vez mais estas artistas se unem para mostrar o poder de combate dentro das massas, que não permitem mais serem invisibilisadas, trazendo à luz muito da história ocultada ao longo dos séculos, sobre grandes inventoras visionárias.
Legitimar a produção artística da mulher é construir um espaço justo e igualitário na história da arte, pois, é “em uma sociedade que tivesse superado os estereótipos de gênero em que seríamos capazes de nos ajudar a sustentar direitos fundamentais para todas as pessoas.”¹
A exposição Úvula de Ísis convida a todos para incorporarem a potência do feminino em si, compreender suas múltiplas faces e encontrar o equilíbrio que rege os ciclos de transformação da vida, com menos ênfase na dualidade para caminhar rumo à uma era de unicidade.

Nota:
1 Informação fornecida por Marcia Tiburi, para a Revista Bravo, em São Paulo, 2017. Disponível em: http://bravo.vc/seasons/s01/e02/
Referência:
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão Artista: Pintoras e escultoras acadêmicas brasileiras. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: FAPESP, 2008.

04 de outubro de 2018 às 14:38
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