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Economia Ecológica

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Economia Ecológica

Junior Garcia

A sociedade está vivenciando uma nova fase do capitalismo, caracterizada pela ocorrência simultânea de diversas crises. Neste início de século XXI, a sociedade está enfrentando uma crise ecológica, social, econômica, política, entre outras. Embora o capitalismo tenha aportado uma melhora das condições materiais de vida, este logro tem imposto custos crescentes à sociedade. Apesar de os custos serem crescentes, a sociedade tem ignorado em suas decisões. Isto ocorre, porque a abordagem tradicional trata esses custos como externalidades negativas.

A Teoria Econômica convencional não considera de maneira explícita em seus modelos teóricos que as externalidades são inerentes aos processos econômicos e sociais. Desse modo, o tratamento dos custos envolvidos nas decisões de produção e consumo da sociedade são ignoradas, ou quando muito, esses custos são tratados como entraves ao crescimento econômico. Isto porque a internalização dos custos ambientais ou sociais, por exemplo, tem sido realizada com base na instituição de leis, decretos e regulamentações lato sensu. Quando uma regulamentação impõe uma restrição ao uso dos recursos naturais, por exemplo, essa abordagem é conhecida como comando e controle. Outra abordagem é promover a mudança dos incentivos econômicos, por exemplo, a criação de mercados ambientais, tais como o crédito de carbono. Contudo, essas abordagens têm se mostrado insuficiente para fazer frente aos problemas ambientais. Esse resultado tem sido evidenciado pelo aumento da degradação social e ambiental.

Como destacado, os custos sociais e ambientais são inerentes ao processo de produção e de consumo, portanto, não podem ser tratados como externalidades. Diante dessa situação, nem mesmo a inovação tem conseguido enfrentar de maneira adequada os problemas. Na maioria dos casos, a resolução de um problema é acompanhada pelo surgimento de inúmeros outros em função das limitações dos modelos econômicos e sociais que auxiliam na tomada de decisão. Para ilustrar tal situação podemos citar o caso da energia eólica e solar, consideradas as alternativas mais promissoras para substituir a energia fóssil. Contudo, a base produtiva dessas alternativas é o uso de recursos naturais não-renováveis. No caso da energia eólica, por exemplo, o seu uso tem contribuído para a redução da biodiversidade. As aves colidem com as pás das torres geradoras de energia, resultando na perda da biodiversidade nos parques eólicos.

O enfrentamento dos problemas exige a adoção de modelos teóricos e metodológicos que incorporem de maneira explícita toda a complexidade dos processos de produção e consumo. Não é possível a tomada de decisão com base em uma análise custo-benefício, porque nem todos os custos e benefícios podem ser mensurados na métrica monetária. Além disso, a sociedade não conhece todas as interdependências entre os componentes sociais, econômicos e ambientais.

Na tentativa de contribuir para o aprimoramento dos modelos teóricos e metodológicos de apoio à tomada de decisão, nos anos 1980 foi criada a Economia Ecológica. A sua principal contribuição é a apresentação da abordagem teórico-metodológica conhecida como transdisciplinar. Essa abordagem indica que é preciso ultrapassar os tradicionais limites dos campos do conhecimento para enfrentar os problemas que afligem a sociedade. Isto significa que os modelos devem incorporar a transversalidade das dimensões, em especial da dimensão ambiental. Essa proposta considera na devida medida a multidimensionalidade dos problemas e a inerência dos custos da ação humana no bem-estar. No Brasil, parcela das pesquisas que adotam essa abordagem tem sido conduzida pelos membros da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica. Entre os dias 19 e 22 de setembro de 2017 está sendo realizado o XII Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica. Convido a todos para consultar os trabalhos aprovados para apresentação oral e em formato de painel (http://www.ecoeco2017.sinteseeventos.com.br/). Os trabalhos apresentam uma abordagem inovadora e muito mais próxima da realidade para o enfrentamento dos problemas do século XXI. A sociedade tem demandado uma aproximação da ciência e da pesquisa com a realidade.

Junior Ruiz Garcia - Professor do Curso em Ciências Econômicas, do Mestrado Profissional em Desenvolvimento Econômico e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico do Departamento de Economia da UFPR . Economista pela Universidade Federal do Paraná (2005), mestre em Desenvolvimento Econômico Agrícola e Agrário (2007) e doutor em Desenvolvimento Econômico Espaço e Meio Ambiente pelo Instituto de Economia da Unicamp (2012). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2. Pesquisador do Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental (NEEA) do IE/Unicamp e do Núcleo de Economia Empresarial do Departamento de Economia da UFPR. Principais áreas de atuação: economia aplicada, análise regional, economia agrária e agrícola, economia ecológica e valoração e gestão dos recursos naturais. 

Publicado em 17/09/2017

17 de setembro de 2017 às 17:33
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