[ARTIGO DE OPINIÃO] A cultura imposta pelos senhores da água
A maior frustração que sinto, não é só pelo fato de empresas e suas famílias ficarem milionárias e, por consequência de seu dinheiro adquirirem um certo poder sobre as vidas de moradores das cidades exploradas. Minha frustração está nas pessoas que se deixam manipular, talvez seja por conveniências, ou comodismo. Não consigo compreender o fato de um “ser” morar a vida toda em uma região, e estar presente e ausente ao mesmo tempo, presenciar a degradação do meio em que vivem acontecer de forma tão intensa e se sentir indiferente a isso... Bastando somente ter uma vida confortável, e um padrão de vida razoável para se esquecer que o bem mais vital do mundo: a água está sendo ignorando e ao mesmo tempo contaminada. Isso ocorre de forma quase que irreversível! As pessoas não se dão conta que pagam mais caro por algo que deveria ser de graça. Mas os fascínios pelo consumo ofuscam os olhos e cauterizam suas mentes...
Atualmente, os seres humanos estão sofrendo de uma epidemia, que se propaga rapidamente, e recebe o auxílio da chamada globalização. Nossa civilização comete erros contra sua própria espécie desde os primórdios, porém nesse exato momento milhares de pessoas continuam morrendo. Vítimas não de pandemia biológica, nem de um político tirano, tão pouco por algum fanático religioso. Estou me referindo das condições de miséria econômica (salários inferiores), miséria cultural (sem educação) e a miséria ambiental (sem água potável), que o nosso consumo excessivo, propicia as classes exploradas e profundamente prejudicadas.
A desigualdade no que se trata em acesso a água é, deverás, desumano. A ganância é tamanha que nos faz refletir, sem conseguir chegar em uma solução concreta. É, então, desafiador querer fazer algo em relação a falta de água ou da degradação da mesma, isso se torna quase impossível de resolver. São problemas em um âmbito geral, pois se cada um fazer um pouco por sua comunidade e por sua bacia, todos em conjunto conseguirão, sim, fazer uma grande diferença.
Em virtude de grandes corporações terem o domínio de uma região, com o interesse, exclusivamente, pelo poder do uso da água e solo, ocorre a monopolização do uso da água. Nesse sentido, acabam deixando, os moradores da comunidade, sem o direito de desfrutar de uma substância vital para sua sobrevivência: a água dos rios. Por sua vez, os moradores não fazem ideia do bem que lhes é usurpado, sem contar com a forma cruel que essas pessoas são tratadas, ignoradas e nem se dão conta!
Como garantir o uso fruto dessa comunidade que pertence a “ tal” nascente, afluente ou até o seu rio principal? São tantos os erros, permitindo o uso indiscriminado de um bem que deveria ser de todos. Essa água tão preciosa sendo esgotada pelo excesso do consumismo, de países onde o capitalismo impera, e quem governa, os senhores da água, senhores da mineração, da agricultura ou das indústrias, simplesmente ignoram o simples fato de milhões de seres humanos morrerem pela falta de água.
Embora, o consumo e o desperdício sejam grandes no momento, há várias maneiras de se conseguir um bom resultado perante a esse caos que cerca em torno de uma bacia hidrográfica. Pensando em uma reeducação, conscientização e trabalhando a sensibilização ambiental hídrica em todas as comunidades possíveis, desmistificando a história de que as reservas de águas são inesgotáveis, como de fato o ciclo prova que é, porém, sua qualidade não.
Um exemplo claro seria a nossa Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, tendo vários afluentes, e os seus principais estão contaminados e poluídos, tanto pela mineração, quanto pela rizicultura, como também por esgotamento doméstico e industrial. E todos esses dejetos tem um longo caminho rio abaixo, deixando a água inapropriada para o uso em vários trechos do rio, e tudo isso vão ao encontro com o mar. Todavia, até chegar ao seu destino “final”, a água que muitos acreditam ser boa para o consumo humano, é deveras tóxica! Pois, há excesso de ferro e enxofre proveniente da pirita liberada na água e no solo deixada pela mineração de carvão, com agrotóxicos das lavouras, e esgotos e lixo despejados no rio. O mais incomodo nisso tudo, é que tem morador achando que o rio de sua cidade não é poluído. Eles não fazem ideia do prejuízo ambiental que empresas mineradoras por exemplo, estão deixando de heranças para seus filhos e netos.
Todos nós sabemos que com a ascensão da I Revolução Industrial no sec. XVIII e XIX, a exploração de carvão se expandiu no mundo, e não sendo diferente aqui, mesmo que tardia, chegou e transformou a paisagem. Os empreendedores alegando um ótimo desenvolvimento econômico na região, se fazendo valer de métodos nada honrosos, comprando quem tiver preço, para seus deleites, que devastam os nossos recursos minerais (água, solo e carvão) esses que tomam posse, lucram muito, e destroem tudo, deixando um rastro de destruição por onde passam. Como a famosa Marion 7800, que proporcionou riqueza a poucos e deixou muitos sem água de qualidade para múltiplos fins, inclusive para o consumo.
Para tentar sanar, mediar, e levar um pouco de conhecimento as pessoas o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, (um colegiado que toma decisões relativos aos recursos hídricos da região estudada), entra em ação com projetos, mediações de conflitos entre entidades membros, e outras ações que colaboram para a conscientização e sensibilização dos moradores da bacia em questão. Porém, percebi uma indiferença da população aos feitos do Comitê, não há preocupação nem interesse da população, simplesmente, eles não se importam! Pois, as notícias das celebridades os comovem muito mais, do que a realidade local em que vivem.
Portanto, insisto em dizer que a situação crítica ambiental só vai mudar quando as pessoas começarem a se importar, quando perderem esse olhar de europeu medieval (devastador e depredador de nossa terra) e perceberem que sem água, não haverá futuro digno para nenhum de nós. Não dá para ficar a mercê dos senhores da água, sendo manipulados por eles! É preciso mudar! E a hora é agora!
Por Magda Gerlach
Curso de Geografia - 5ª fase
17 de maio de 2017 às 10:024 comentários
Andréa Rabelo Marcelino
07 de junho de 2017 às 20:07Magda, boa reflexão...sempre quando pensamos em água, pensamos em preservação, conscientização e como futura professora de Geografia, contamos com você nas escolas para auxiliar nessa função.
Mari Helen
25 de maio de 2017 às 20:08As águas são temas que devem sempre estar discussões e a conscientização de seu uso é essencial para o futuro das mesmas.Ótimo texto Magda, com bons argumentos.
Miriane Buss Roecker
23 de maio de 2017 às 21:34É um tema que precisamos parar e analisar os "estragos" feitos, para mudanças no modo de vida do ser humano. Afetando e degradando o menos possível o meio em que vivemos.
Professora Carina
17 de maio de 2017 às 15:12Magda, Realmente é hora de mudança, e nós podemos com os pequenos atos fazer acontecer! Você deu o primeiro passo, agora nos resta prosseguir... Parabéns! Excelente texto!