Leitura, literatura e comprometimento
Richarles Souza de Carvalho - rsc@unesc.net -
Docente e coordenador do curso de Letras da Unesc -
Penso ser um bom momento para refletirmos sobre leitura. No mês de abril, reúnem-se, coincidentemente, algumas datas que falam sobre livros, logo sobre leitura. Vamos a elas.
No dia 2 de abril foi comemorado o ‘Dia Internacional do Livro Infantil’. A razão da escolha dessa data deve-se ao nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, autor de ‘O Patinho Feio’, ‘A Pequena Sereia’, ‘O Soldadinho de Chumbo’ mais de uma centena de contos. Existe um prêmio internacional – medalha Hans Christian Andersen – para autores de obras infanto-juvenis, oferecido pela International Board on Books for Young People. Alguns escritores brasileiros já receberam essa premiação.
O dia 18 foi reservado para o Dia Nacional do Livro Infantil. Nasceu nesse dia um dos maiores escritores brasileiros: José Bento Monteiro Lobato. Atribui-se a Monteiro Lobato a criação de uma verdadeira literatura infantil brasileira. O Sítio do Pica-Pau Amarelo é o suprassumo de sua obra.
O Dia Mundial do Livro – 23 de Abril – é mais uma data que quero lembrar. Nesse dia morreram o espanhol Miguel de Cervantes (de ‘Dom Quixote de la Mancha’) e o inglês William Shakespeare (‘Hamlet’, ‘Romeu e Julieta’). Curioso o fato de ter sido em um 23 de abril do mesmo ano (1616). A título de informação, o Dia Nacional do Livro é em 29 de outubro.
Todas essas datas, reunidas em um só mês, podem servir como pano de fundo para uma reflexão sobre a realidade de leitura no Brasil, a leitura literária e do consumo de livros.
Uma série de frases sobre a importância da leitura são ouvidas por todos cotidianamente: “Quem lê mais escreve melhor”, “Devemos ler mais para sermos melhores cidadãos”, “A educação (logo leitura) pode transformar um povo”, “A leitura é importante para o desenvolvimento” (cultural, psicológico, neurológico, e por que não econômico).
Tais afirmações são tão corriqueiras e de fácil aceitação que poderiam ser classificadas como clichês. A expressão clichê tem certa carga pejorativa e gostaria de fato de apelar para esse sentido em minha argumentação, pois, apesar de concordar com a maioria das afirmações (algumas em parte, outras, no todo) o fato de que a minoria das pessoas coloca em exercício tais afirmações, as coloca no patamar de clichês.
Explico: as pessoas falam que ler é importante, que se deve ler mais, contudo, na prática, os mesmos sujeitos que assim afirmam, pouco ou nada leem.
Alguns estudiosos advogam que nunca se leu tanto na história da humanidade. Com o advento da internet, é quase óbvio afirmar que todos temos acesso a uma infinidade de textos, de naturezas diversas. Os mesmos estudiosos afirmam que nunca se leu tão pouco. Isso mesmo, um paradoxo se instala. Por que nunca se leu tão pouco? Por que determinados tipos de leitura (para alguns de melhor qualidade) estão sendo cada vez menos praticadas. Entre elas, a leitura literária.
A leitura de literatura (e não entrarei aqui na eterna celeuma de “o que é literatura”) se apresenta como uma forma privilegiada de leitura, aquela que primordialmente trabalhará com subjetividade e imaginação, aquela que pode ser atemporal, pois dialoga com distintos leitores em diferentes épocas. Afirmo isso com certa tranquilidade, como professor e leitor de literatura, mesmo com o risco de também cair em um clichê. Argumenta em favor desse tipo de leitura, a explicação histórica das datas comemoradas em abril, apresentadas acima. Por exemplo, comemora-se o dia mundial do livro com alusão a escritores literários, logo a relação é com livros literários. Mas não existem somente livros de literatura.
Um cenário animador tem se apresentado nos últimos anos, com programas governamentais e privados de distribuição de livros, com ONGs relacionadas ao tema, com as feiras de livros, etc. Todavia, fica a cargo de cada um – o coletivo se constitui a partir do individual – a tomada de decisão para fazer com que os clichês mencionados anteriormente não sejam somente frases de impacto, mas de alguma forma contribuam para o enriquecimento cultural de cada um, para sermos melhores seres humanos. A leitura pode ajudar nessa tarefa. A leitura literária principalmente.
Abril está chegando ao fim, com várias datas que nos lembram da importância de ler. Mas não chega ao fim a necessidade de lermos cada vez mais e melhor. Qual nosso nível de comprometimento com a leitura? Você, qual livro está lendo agora?
4 comentários
Angela Back
30 de abril de 2014 às 21:10Que bacana sua reflexão Richarles. Estamos no OBEDUC fazendo um percurso nessa direção com um texto de Finger-Kratochvil sobre alguns dados que ela traz de professores em formação sobre leitura. Vamos trocando....Parabéns!!!
Lucineide
30 de abril de 2014 às 20:39Parabéns professor Richarles, adorei a reflexão! Otimo texto, realmente a leitura faz parte de nossas vidas em todo momento...
Leda Maria
29 de abril de 2014 às 18:43Professor Richarles, parabéns pela reflexão! Quanto aos seus questionamentos, só posso responder que nunca fico sem "nada para ler"! E, nesse exato momento, estou lendo uma seleção de contos de Salim Miguel - e recomendo!
Márcia
28 de abril de 2014 às 22:25Ótimo texto, excelente reflexão. O que estou lendo? Tenho feito leituras fragmentadas, ultimamente. Um pouco deste, um pouco daquele... A leitura, de fato, faz parte da minha vida, desde a graduação em Letras aí na UNESC.