A terra dos espritados
É voz corrente entre os francisquenses que quando os americanos chegaram à Lua (e há quem duvide) lá já estavam dois francisquenses. Vendendo alho. Eram Tonico Caetano e Odorico. Figuras ilustres do passado da cidade famosa nos interiores por sua índole de bons vendedores, corajosos, desbravadores. Herdeiros de mascates que percorriam o sertão em lombo de jegues vendendo tecidos e outros produtos. Ficaram na história e no folclore desta terra de “espritados”.
A expressão, que já foi considerada palavrão, usada para para xingamentos ou ligada a alguma ação do “coisa ruim”, tem também outro sentido. Bem melhor e que define o estado de ânimo desta gente. Quem explica é João Evangelista (o “seu Lista”, como diz: “aqui todos tem apelido, até no banco se falar o nome o homem duvida, se fala o apelido, logo é conhecido”).
“Espritado quer dizer esperto, guerreiro, lutador, bom negociador, muito inteligente”,defne “seu” Lista. Este inspetor da Funasa aposentado, de 66 anos, ele mesmo é um “espritado”. Dono de uma memória espantosa (diz se lembrar de toda sua história desde os três anos de idade) e de um palavrório sem fim conhece todo o Nordeste desde a década de 60 como Guarda de Endemias da Campanha de Erradicação da Malária, depois da Sucam, combantendo o barbeiro (mal de Chagas) e depois, até se aposentar, como Inspetor da Funasa combatendo a esquitossomoze, calazar e dengue.
Conforme ele, esta é a marca maior do povo francisquense. Afirma que não há lugar no Brasil e muitos no exterior onde não haja um “ espritado” trabalhando no comércio. “Na Ceasa deTeresina, 60% são daqui, na feira de Picos, todos”, airma ele. Diz também, e podemos notar em nossas conversas com o povo, da índole pacífica dessa gente. “Crime cometido por gente daqui houve só dois: um no tempo dos fundadores, crime passional e outro há mais de trinta anos. Com a migração, ocorreram outros, mas sempre com gente de fora”. Ele não poderia deixar de falar sobre a fama dos francisquenses em arrebanhar maioria maciça nas classificações em concursos públicos da região. “Uma vez, em Picos, mais de 60% das vagas foram conquistadas por gente daqui. O prefeito de lá veio e disse para o prefeito local: o senhor faça concurso aí para sua gente porque eu faço lá é para empregar gente de lá”. O fato é que há muitos moradores fora em boas colocações e muitos jovens universitários com ótmas classificações em vestibulares em várias cidades pelo estado e fora dele.
Cidadezinha com alto grau de dificuldades, em várias áreas, tem no seu povo seu maior tesouro. Pacato, briga com a inteligência, estuda e vai embora... Muitos ficam, todos voltam... “Espritado ama sua terra”. Isso a gente vê pelo número de casas boas fechadas. É gente que se deu bem lá fora, mas sempre volta. Bem ali perto de onde conversávamos estava o “seu” Lolô, Salustiano Antão de Souza que já foi à Holanda vender cajú. É ou não um povo de “espritados”?
Essa conversa aconteceu, na quarta-feira, no único momento de folga das equipes quando convidadas pelo Prefeito Edson Carvalho, passaram a tarde em seu sítio (típico do semiárido). Tudo foi presenciado e concordado pelo prefeito....)
27 de janeiro de 2011 às 14:37