Desde 2001 o projeto de extensão “Coleta Seletiva Solidária” da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) integra ensino, pesquisa e extensão no estudo e compreensão da atividade de catação de materiais recicláveis no município de Criciúma e região.
Com a realização de estudos sobre a população catadora de rua e sobre a formação de empreendimentos de economia solidária na organização de associações e cooperativas de catadoras e catadores, o Projeto também constrói um profícuo diálogo entre Sociedade e Universidade.
No cenário jurídico brasileiro, as pessoas que realizam, formal ou informalmente, a atividade de catação de materiais reutilizáveis e recicláveis ocupam lugar de destaque na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010 e pelo decreto lei 7404/2010. A política pública estabelecida incentiva de forma expressa e fornece diretrizes claras para a organização de catadoras (es), salientando a importância de sua inclusão social e emancipação econômica, bem como de sua participação na implementação da coleta seletiva a nível municipal.
A realidade observada, no entanto, em muito destoa do recomendado pela legislação. Inexistem políticas públicas que assegurem avanços reais para esta classe de trabalhadores, e tampouco parcerias públicas e privadas que propiciem melhoras no cenário da catação onde estão alocados. Observa-se que não há, na prática, o tão necessário reconhecimento do trabalho primordial desempenhado pelas catadoras e catadores no funcionamento – ainda que embrionário – da cadeira de reciclagem, reconhecimento este sem o qual se torna inviável não apenas à superação dos limites de logística da coleta seletiva e da infraestrutura precária e insalubre dos galpões de triagem, em especial os existentes no estado de Santa Catarina, mas também – e principalmente – de sua condição de sujeitos excluídos e invisibilizados.
Na cidade de Criciúma, há um empreendimento de catadores de materiais recicláveis, com o qual o Projeto atua diretamente: a Associação Criciumense de Catadores (ACRICA). Incipiente e em precária situação de funcionamento, com problemas no âmbito institucional, de gestão ambiental e administrativa, o empreendimento não possui sequer segurança jurídica com relação ao espaço de trabalho: a ACRICA está alocada junto ao programa de recolhimento de resíduos tecnológicos e pneus do município (denominado Ecoponto). A CTMAR foi extinta por um incêndio com causas não esclarecidas ocorrido em 18 de junho de 2018. Não só a insalubridade e a invisibilidade, deste modo, compõem o enredo no qual os catadores e catadoras trabalham – a instabilidade, ela própria fruto da ausência de políticas públicas municipais eficientes, faz-se presente de forma marcante. Partindo, assim, das trajetórias de vida destes trabalhadores e trabalhadoras, que, embora embotados pela precariedade, existem e resistem em seus lugares, o Projeto caminha pela perspectiva de fortalecimento dos empreendimentos existentes, priorizando sua autonomia e visando a transformação social, tendo como base a visão pedagógica freiriana, congregando os movimentos sociais, grupos organizados e universidade.
No intuito de fomentar o debate com a sociedade a respeito da temática, entre os dias 07 e 13 de maio o Projeto “Coleta Seletiva Solidária” promoverá, com o apoio de diversas instituições que atuam conjuntamente na problemática da gestão de resíduos, a exposição “Catadoras(es), a matéria viva no lixo: retratos da invisibilidade”, no espaço cedido pelo Supermercado Giassi. Elaborada a partir das atividades até então empreendidas pelo Projeto, a mostra busca dar visibilidade ao trabalho das catadoras e catadores dos empreendimentos solidários de Criciúma, chamando a atenção para sua importância social, econômica e ambiental. Por meio de fotografias dos catadores e catadoras em seus ambientes de trabalho.
As precárias condições de trabalho afetam diretamente a vida de diversos catadores e catadoras que tem no lixo urbanouma forma de sustento e vivem na invisibilidade social.
A exposição de fotos chama a atenção ao trabalho das catadoras e catadores de empreendimentos solidários de Criciúma (ACRICA e CTMAR) despertando para sua importância social, econômica e ambiental.
Como expõe Gurán (2000), o ato de fotografar contribui para atribuir valor a uma determinada cena. Barthes (1981, p. 56) completa: “Inicialmente, a Fotografia, para surpreender, fotografa o notável; mas, em breve, por meio de uma reviravolta conhecida, ela decreta que é notável aquilo que fotografa”. Tendo como objetivos principais: proporcionar à comunidade acadêmica contato com a problemática da gestão de resíduos sólidos com inclusão de catadores em Criciúma – SC; sensibilizar quanto às demandas políticas que emergem a partir da atividade de catação e apresentar, por meio das fotografias, o cotidiano das catadoras e catadores.
As fotografias foram obtidas nos ambientes de trabalho dos empreendimentos criciumenses e nas ruas e avenidas da cidadecom autoria do professor Luis Afonso dos Santos.
A exposição fotográfica é resultado de uma articulação do Projeto Coleta Seletiva Solidária (UNESC) e parceiros como provocação de reflexão e esperança de reconhecimento do trabalho de catadoras e catadores.