Propriedade Intelectual, Desenvolvimento e Inovação

QUEIJO SERRA DA ESTRELA: UMA PRODUÇÃO TRADICIONAL EM RISCO?

QUEIJO SERRA DA ESTRELA: UMA PRODUÇÃO TRADICIONAL EM RISCO?
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Valdinho Pellin

 

O Queijo Serra da Estrela é produzido na região da Serra da Estrela, em Portugal. A região possui uma densidade populacional de 70,9 hab/km2, é predominantemente rural e formada principalmente por pequenas propriedades familiares.

O produto possui forte relação com o território. Em primeiro lugar, por ser produzido a partir de raças de ovelhas originárias da serra da estrela, que se alimentam de pastagens da região, conferindo características exclusivas ao produto. Em segundo lugar, por ser produzido na região desde o século XII, época em que já possuía forte reputação entre os consumidores (PELLIN, CADIMA RIBEIRO e MANTOVANELI Jr.).

Reconhecido como Denominação de Origem Protegida (DOP) desde 1994, é uma experiência consolidada e conhecida mundialmente mas que atualmente enfrenta alguns desafios que podem comprometer sua vitalidade.

Há pelo menos dois sistemas distintos de produção da região: a produção em pequenas agroindústrias que produzem em relativa escala, inserem seu produto em grandes redes de supermercados e até exportam, inclusive para o Brasil. Estas agroindústrias apresentam relativa vitalidade e parecem aumentar a produção e expandir seus mercados ano a ano. O segundo sistema de produção é o familiar. O Queijo Serra da Estrela é produzido por pequenos produtores rurais, em suas próprias residências. A escala de produção é pequena e a comercialização ocorre nas próprias residências e em feiras locais, regionais e nacionais.

É este segundo sistema de produção que parece estar desaparecendo na região e que pode colocar em risco a vitalidade da experiência. Segundo Pellin, Cadima Ribeiro e Mantovaneli Jr (2016), entre os maiores desafios deste sistema de produção está  a  idade avançada dos produtores rurais, que combinada com o pouco interesse dos filhos em continuar a produção, coloca em dúvida a continuidade da experiência; a limitada escala de produção (raças de ovelhas pouco produtivas), que dificulta a comercialização do produto em grandes redes de supermercados; e a resistência de muitos produtores em reconhecer o produto como DOP em razão dos altos custos deste reconhecimento e do pouco valor agregado ao produto, principalmente quando comercializado na região de produção.

Em relação à primeira dificuldade, a utilização das raças está prevista no Caderno de Especificações do Produto, não  sendo  possível,  portanto,  substituí-las.  Neste caso, o que se procura fazer é melhorar as raças geneticamente, trabalho desenvolvido pela Associação dos Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ACOSE).

Em relação às outras dificuldades, a Cooperativa dos Produtores do Queijo Serra da Estrela (Estrelacoop) tenta incentivar o amento da produção DOP, demostrando que é possível a agregação de valor ao produto, principalmente quando comercializado fora da área de produção, melhorando assim a renda familiar.

A aposta da Estrelacoop, para garantir a vitalidade a experiência, está na organização dos pequenos produtores rurais em cooperativas ou associações, tanto para produção (alcançando relativa escala de produção) quanto para comercialização do produto. O tempo dirá se a estratégia dará certo e se será suficiente para a sobrevivência do sistema de produção familiar ou se os pequenos produtores rurais acabarão por tornar-se apenas ofertantes de matéria prima para a unidades agroindustriais.

Referências Bibliográficas:

PELLIN, V.; CADIMA RIBEIRO, J.; MANTOVANELI Jr. O.; Contribuições dos produtos tradicionais para o território: a experiência do Queijo Serra da Estrela, em Portugal. Revista Territórios & Fronteiras, Cuiabá, Vol. 09, n. 01, jan-jun 2016.

Valdinho Pellin - Graduado em Economia. Mestre e doutor em Desenvolvimento Regional pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau (PPGDR/FURB). Realizou estágio como pesquisador visitante (doutorado sanduíche - PDSE - CAPES) no Programa de Doutorado em Economia da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (UMinho) em Braga, Portugal. Pesquisador do Núcleo de Políticas Públicas do PPGDR/FURB e do Grupo de Pesquisa Propriedade Intelectual, Desenvolvimento e Inovação da UNESC. Professor convidado na disciplina de Práticas Integradas em Desenvolvimento Regional do Programa de Educação Superior para o Desenvolvimento Regional (PROESDE) da FURB e na disciplina Indicadores de Desenvolvimento no curso de Especialização Lato-Sensu em Desenvolvimento Regional Sustentável promovido pelo Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI). Professor de Economia na Faculdade Metropolitana de Blumenau (FAMEBLU) e Supervisor de disciplinas de EAD no Centro Universitário Leonardo da Vinci. Tem experiência na área de economia regional, desenvolvimento territorial, desenvolvimento territorial sustentável e turismo. Atualmente pesquisa as Indicações Geográficas (IGs) e suas contribuições para o desenvolvimento territorial.

 

02 de outubro de 2017 às 09:39
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